São Paulo, SP 22/7/2020 – Antes da COVID-19, poucas empresas tinham a cultura do home office e outras estavam com um certo receio de adotar esta modalidade.
A adoção do modelo de home office acontece por meio de um planejamento que envolve mudança de cultura, implementação de ferramentas e processos, e um forte plano de comunicação. Porém, a COVID-19 empurrou as empresas para este novo modelo sem qualquer oportunidade de planejamento. E agora?
A frase “O que eu ouço, eu esqueço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu APRENDO” é do filósofo Confúcio e vem de uma época onde era inimaginável o tal do home office. Apesar de antiga, parece tão atual e coerente quando se observa o que as empresas estão vivendo atualmente e que costumava ser um tema tão polêmico dentro das organizações.
Antes da COVID-19, poucas empresas tinham a cultura do home office e outras estavam com um certo receio de adotar esta modalidade. Este medo era exposto por frases como “o que funcionou lá pode não funcionar aqui” ou “se não vejo o funcionário como vou controlar e saber que está trabalhando?”. Estas afirmações eram corriqueiras em algumas empresas onde ainda existe a forte cultura de comando e controle, onde normalmente prevalece o fato de que fazer gestão depende do local de trabalho e não de cultura, processos e ferramentas.
Normalmente, a adoção do modelo de home office acontece por meio de um planejamento que envolve mudança de cultura, implementação de ferramentas e processos, e um forte plano de comunicação. Isso, em geral, leva tempo e é feito com extrema cautela. Infelizmente, a COVID-19 chegou e com ela, uma nova realidade. Muitas destas empresas que ainda viviam o famoso “tabu” do home office foram literalmente empurradas para este novo modelo, sem qualquer oportunidade de planejamento.
Como já era de se esperar, as primeiras semanas foram bem complicadas. Foram um misto de emoções, momentos de incertezas e dúvidas, medos e tristezas. Mas, as coisas foram se ajeitando. O que antes era estranho virou normal e o que era normal virou estranho.
Hoje, vive-se o Novo Normal e o sentimento é que todos estão trabalhando muito mais! Não só em carga horária, mas também em produtividade e eficiência. E quando se olha para o passado, tem-se a certeza que o ritual de acordar, se arrumar, se deslocar para o trabalho e sentar-se em uma cadeira dentro da empresa por pelo menos oito horas durante cinco dias na semana parece não fazer o menor sentido e deveria ficar apenas como recordação.
Sim, parece que o trabalho está inserido em uma realidade nova e melhor. Porém, o mundo está em quarentena. Ou seja, todos estão impedidos – de certa forma – de realizar atividades cotidianas. As academias e os parques estão fechados, o comércio está voltando de maneira gradual, bares e restaurantes funcionam com diversas restrições, as crianças estão estudando dentro de casa de maneira on-line, reuniões presenciais estão suspensas. A vida pessoal não está nos eixos e é natural preencher estas lacunas com mais trabalho. Esta é uma fase e, assim como tantas outras, vai passar. E é extremamente importante a preparação para o retorno pós-Covid-19. É preciso ter em mente um realinhamento entre funcionários e empresas, restabelecer os limites, criar regras, respeitar os acordos pré-existentes e, principalmente, solidificar esta nova cultura dentro da empresa sem deixar de lado a vida além do trabalho.
Mas fica a pergunta: para que voltar?
É preciso entender melhor o que é trabalho nos dias de hoje. Basicamente, trabalhar significa criar algo que foi fruto da comunicação e da reflexão de um conjunto de pessoas. Dentro das empresas, todos são seres de relacionamento e reflexão. Vivencia-se isso ao longo de toda a jornada de trabalho: as conversas no café, as brincadeiras no almoço, as reuniões informais no corredor ou as formais pré-agendadas. Uma empresa saudável vive de relações e naturalmente procura uma maneira de se relacionar para cocriar algo. O trabalho em grupo normalmente é melhor que o individual. Mas a vida corporativa não é composta só por relações. Observando em detalhes, nota-se que é possível identificar no cotidiano as atividades de produção, que são as reuniões formais, e a construção daquilo que foi fruto de alguma definição anterior. Sabe-se que para as atividades de criação, onde por meio de um grupo ou até mesmo de maneira solitária cria-se ou inova-se, o ambiente tem uma grande influência. Ter o olho no olho, a troca inconsciente, observar a linguagem corporal e sentir a temperatura da situação influencia muito no resultado final.
Ao viver esse Novo Normal, percebe-se que dentro da jornada do trabalho as atividades de produção funcionam muito bem no mundo on-line e deveriam permanecer desta forma: sendo realizadas em casa. Por outro lado, se antes o cenário de mercado era competitivo, vai tender a piorar. Não será possível participar desta competição somente pela quantidade de trabalho produzida, mas sim pelo poder de criar, inovar, ser diferente. No mundo pós-Covid-19, os ambientes corporativos deverão servir principalmente para compartilhar ideias, com encontros informais sem pauta e sem controle, que fomentem a inspiração, o pensamento, a socialização, a diversidade, a descontração, com lugares para a descompressão digital. Enfim, o ambiente corporativo deverá se transformar em tudo aquilo que já deveria ter sido no passado, mas que ficou ocupado sendo apenas um office.
Eduardo Endo – coordenador acadêmico do MBA em Tech Driven da FIAP.
Website: http://www.fiap.com.br