6/6/2014 –

A utilização de tecnologias digitais para a prevenção da violência em Nairóbi, capital do Quênia, encontra barreiras ligadas à falta de recursos e resistência à mudança por parte das instituições policiais e à pouca confiança que os moradores das comunidades mais violentas depositam na polícia e no governo. Entretanto, existem condições para uma evolução neste sentido num país em que mais da metade da população, formada majoritariamente por jovens, é usuária de dispositivos móveis e os próprios policias reconhecem as vantagens das modernas tecnologias no seu trabalho.

Essas são algumas das conclusões do estudo “Novas tecnologias para enfrentar velhos desafios de segurança pública de Nairóbi”, de autoria de Mads Frilander, Jamie Lundine, David Kutalek e Luchetu Likaka. A pesquisa, lançada esta semana pelo Instituto Igarapé e disponível em inglês foi desenvolvida em parceria com a Danish Demining Group (DDG) e a Spatial Collective no Quênia. O estudo integra o projeto Smart Policing – coordenado pelo Instituto Igarapé em cooperação com o Google Ideias, que vem se desenvolvendo no Rio de Janeiro, Cidade do Cabo, na África do Sul, e em Nairóbi com o objetivo de colaborar com a modernização das forças policiais.

O estudo mapeia o ambiente digital que molda a segurança pública em assentamentos informais de Nairóbi para analisar a eficácia e custo-benefício do uso de novas tecnologias pelo Serviço Nacional de Polícia do Quênia. “Identificamos uma série de oportunidades e desafios para o estabelecimento de um policiamento mais inteligente na cidade e concluímos que o processo de reforma da polícia em curso proporciona um ambiente propício importante para identificar e testar novas abordagens e tecnologias”, ressalta Mads Frilander, um dos autores.

Polo tecnológico

Maior cidade da África Oriental, a capital do Quênia concentra a elite financeira, econômica, corporativa e cultural do país, além de estar se tornando um polo tecnológico para as regiões central e oriental do continente. A cidade possui uma população formada majoritariamente por jovens, é afluência de startups e apresenta um perfil de democratização das tecnologias móveis (atualmente 75% dos quenianos possuem celulares).

As autoridades do país têm investido em melhorias relativas à disseminação da tecnologia digital, mas a adoção de novas tecnologias ainda não é padrão nas forças policiais. Policiais ouvidos durante a pesquisa acreditam, no entanto, que o uso de novas tecnologias poderia, entre outros benefícios, melhorar a comunicação com seus superiores nas delegacias sem o receio da deturpação das informações; identificar mais facilmente as rotas e localidades a fim de providenciar melhor atendimento à população durante incidentes; facilitar o pedido de reforço quando necessário e simplificar o acesso a arquivos policiais com a introdução de gravações digitais em substituição ao “papel e caneta”.

Desafios

O estudo conclui que, apesar de 75% da sua população do país dispor de telefone celular, tanto os policiais quanto a grande maioria dos cidadãos ainda optam pelo encontro face a face na resolução de conflitos. Isso porque a população não confia inteiramente na polícia nem no governo, sentindo-se mais segura no contato pessoal com policiais conhecidos; de parte da polícia, as razões se prendem à precariedade dos equipamentos e falta de apoio no enfrentamento de grupos criminosos.

Para Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé e coordenador do projeto Smart Policing, “há enormes semelhanças entre as cidades em que desenvolvemos estudos no sentido de perceber as necessidades da polícia e da população e colaborar para a prevenção da violência com tecnologia e com uma polícia de proximidade”.

Para ele, “a troca de ideias e de informações é imprescindível para a construção de uma segurança cidadã, e é por isso que estamos procurando promover seminários e encontros entre as pessoas ligadas ao tema. Entre os inúmeros exemplos dessa troca podemos citar a recente visita de representantes das forças policiais da África do Sul ao Rio de Janeiro, para conhecer iniciativas locais, como as UPPs”.

Sobre o Instituto Igarapé
O Instituto Igarapé é um *think and do tank dedicado à integração das agendas da segurança e do desenvolvimento. Seu objetivo é propor soluções alternativas a desafios sociais complexos, através de pesquisas, formação de políticas públicas e articulação.

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* Instituição dedicada a produzir e difundir conhecimentos e estratégias sobre determinados assuntos que demandam um pensamento inovador.

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