São Paulo, SP 5/2/2021 – A grande dificuldade observada nos poços do pré-sal da costa brasileira é a estreita janela operacional de perfuração
No funcionamento do MPD integrado se tem o controle da contrapressão utilizando equipamentos de superfície e uma junta submarina nas perfurações
Um dos maiores desafios mundiais enfrentados pela indústria de óleo e gás é a perfuração de poços de petróleo em lâminas d’água ultras profundas do pré-sal, segundo o engenheiro naval Marcos Vinicius Komoto Losito, gerente responsável pelo projeto de concepção e instalação do sistema pioneiro de MPD Integrado em um navio sonda em 2014 e 2015 em Las Palmas na Espanha.
Conforme o profissional, encarregado geral pela operação a bordo do navio sonda West Tellus há mais de cinco anos, somente recentemente com a aplicação da nova tecnologia de MPD (Manage Pressure Drilling), técnica de controle de contrapressão que utiliza alguns equipamentos de superfície e uma junta submarina, foi que a indústria offshore conseguiu, finalmente, viabilizar a prospecção de reservatórios importantes para o desenvolvimento econômico nacional.
“A grande dificuldade observada nos poços do pré-sal da costa brasileira é a estreita janela operacional de perfuração, resultante da diferença entre a pressão de fratura e pressão de poros do reservatório, localizada logo abaixo da típica espessa camada de sal”, afirma Losito, especialista em perfuração e controle de poço, que possui em seu currículo os cursos de “Well Control IWCF” nível 2, 3, 4 e “Enhanced” com prática em simuladores, todos ministrados pela Maersk Training.
O engenheiro naval menciona que essa dificuldade denominada “narrow drilling operational window”, também observada em outros poços offshore ao redor do mundo como no Golfo do México, Sudeste Asiático e Costa Oeste Africana, é baseada no fato de que um pequeno acréscimo de pressão no fundo do poço (BHP) ocasionados pelo aumento do ECD (Equivalent Circulating Density) do fluído de perfuração, pode causar a fratura na formação e desencadear uma perda de fluídos em taxas descontroladas. “Por outro lado, caso ocorra uma redução da pressão no fundo do poço para um valor abaixo da pressão de poros da formação, um influxo e até mesmo um grande ‘kick’ poderão ocorrer, e se não forem controlados corretamente e rapidamente poderão ocasionar um blowout como acontecido, por exemplo, na catástrofe de Macondo, GoM, EUA, em 2010”, relata Marcos, que possui extensa experiência em construção e reparação naval, engenharia estrutural e perfuração em mais de 10 poços de petróleo exploratórios tipo HPHT (alta pressão e alta temperatura) em águas ultraprofundas do pré-sal para a Petrobras, usando a tecnologia de MPD Integrado no Brasil.
“O sistema MPD Integrado foi desenvolvido para contornar essas dificuldades e desafios. Ele é constituído por um conjunto de equipamentos de superfície e submarino, interligados de forma fixa e eficiente ao navio sonda, com o objetivo de controlar e monitorar com precisão à pressão no fundo do poço através da aplicação de uma contrapressão de superfície (SBP) constante no circuito fechado de fluído de perfuração, gerenciado automaticamente por um choke hidráulico”, informa Losito, que também é considerado um expert nacional em perfuração com MPD, possuindo todos os níveis de curso (fundamental, intermediário, avançado e prático) além do vasto conhecimento específico adquirido em campo ao longo desses últimos anos.
Losito esclarece que além dos modos de operação principais, pressão de fundo constate (CBHP) e outra de perfuração ‘Mud Cap’ (PMCD), o sistema MPD também possui um atributo de extrema importância para a segurança da tripulação e do meio ambiente, chamado de detecção de influxo antecipado. “Essa particularidade do sistema é capaz de perceber antecipadamente qualquer pequeno ganho de volume nos tanques ativos característicos de um evento de ‘kick’, através da leitura em tempo real da massa e densidade do fluído de perfuração retornado à sonda, adquirida pelo medidor de fluxo tipo Coriollis instalado no sistema. Essa detecção antecipada fornece ao sondador e a equipe da sonda toda a informação necessária para a tomada de ação em caso de um evento indesejável, como por exemplo, fechamento do poço através do acionamento do preventor anular do BOP, garantindo rapidamente o controle do poço (Well Control) sem maiores consequências, mitigando os riscos de eventos catastróficos como explosões, múltiplas fatalidades e derramamentos ao meio ambiente marinho.”, explica Marcos Losito.
O sistema de MPD Integrado ao navio sonda desenvolvido pelo engenheiro naval foi essencial para a perfuração dos poços de petróleo do campo de Libra, na Bacia de Santos no Brasil. Esse campo é considerado o maior reservatório do pré-sal nacional em água ultraprofunda, além de ser a fronteira técnica de perfuração mundial. Segundo Losito, as novas descobertas em áreas remotas com elevadas profundidades, assim como as perfurações de poços anteriormente considerados “impossíveis”, serão viabilizadas economicamente e tecnicamente com o uso do MPD integrado em sondas offshore.
“Esses poços são de extremo interesse das nações detentoras dos campos de petróleo, que poderão usufruir da captação do recurso natural com um custo menor de extração e de forma muito mais segura. A redução dos tempos perdidos (NPT) e, consequentemente, a diminuição do custo total por poço em centenas de milhões de dólares, associadas ao aumento na segurança e controle do poço, são os ganhos no uso dessa tecnologia. O Brasil foi o país pioneiro na utilização do MPD Integrado para a perfuração do pré-sal em lâminas d’água ultraprofundas, e os conhecimentos adquiridos através dessas experiências já estão bastante consolidados com as pessoas envolvidas na operação, que serão daqui para frente base para os projetos futuros em outros campos e países.” Conclui o engenheiro naval Marcos Vinicius Komoto Losito.