São Paulo, SP 21/8/2020 – “Só se preocupar com hashtag não adianta”

Como empresas que buscam vender e conversar com pessoas de diversos perfis podem se comunicar com seu público sem que a diversidade esteja inserida também em seus processos?

Não há como fazer um recorte realista em um ambiente que não retrata a realidade. Esta é a visão de Nana Baffour, Chairman, CEO e Chief Culture Officer da Qintess. Neste sentido, como empresas que buscam vender e conversar com pessoas de diversos perfis podem se comunicar com seu público sem que a diversidade esteja inserida também em seus processos? Há como entender e reconhecer a realidade de um negócio se ainda existem perfis sociais que são excluídos dos ambientes empresariais? 

Sendo o Brasil um país em que 56% da população é negra e 51% são mulheres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por que estes perfis são os menos vistos em cargos superiores dentro das grandes empresas? Mulheres ocupam, em média, apenas 19% dos cargos de liderança nas empresas brasileiras. Enquanto isso, de acordo com a pesquisa do Instituto Ethos, negros ocupam apenas 4,7% do quadro executivo das 500 empresas de maior faturamento do país. 

De acordo com Nana, o debate sobre diversidade não pode mais estar apenas na área de marketing ou de recursos humanos das grandes empresas. “Só se preocupar com hashtag não adianta”, argumenta. A abordagem deste assunto deve permear o planejamento, a estratégia, a política e  todos os lugares dentro de uma organização para que as ações tomadas sejam realmente eficientes e se mostrem decisivas no contexto social. 

E não só pela necessidade de reconhecer diferentes pessoas nas empresas, ele entende que a diversidade também quer trazer novas experiências. A variedade de pensamentos instiga a inovaçãocomo bem exemplifica este artigo publicado pela Forbes. Reconhecer as necessidades dos diversos perfis de pessoas faz pensar além das demandas de um público padrão. Esta é a porta de entrada para a criação de novos produtos, serviços e tipos de interação que podem ser a grande transformação, o motor que vai alavancar seu crescimento. 

As ações no ambiente corporativo, no entanto, ainda são lentas. Segundo Nana Baffour, os empresários precisam tomar ações mais concretas em relação à diversidade de pessoas dentro de suas organizações.  A seguir, alguns insights de Nana sobre “Diversidade & Inovação”, tema do próximo Economics of Change, evento que acontece no dia 27 de agosto.

 

Não há como entender e reconhecer problemas se não há diversidade e se grande parte da população não está inserida dentro de uma organização. Como este processo de inclusão acontece dentro da sua empresa?

Trabalhamos muito forte nos últimos 6 meses em alguns pilares e um deles é o People for Good. Gostamos de gente que tem ideias diferentes. Trabalhamos para que essas pessoas se sintam autênticas sendo quem são. 

Temos que educar a população. Boa parte acha que não precisamos fazer nada. O povo precisa entender que tem algo errado, que isso não é normal. Metade da população no mundo é de mulheres, mas nas empresas não é assim.

 

Algumas empresas restringem suas ações sociais ao marketing, sobretudo nas redes sociais. Que ações concretas são necessárias para transformar um ambiente corporativo em um ambiente socialmente justo e diverso?

A primeira coisa é que todos os líderes precisam discutir esta pauta. Posso garantir que em 80% do tempo esta discussão não acontece. Alguns fazem porque acham que precisam fazer, mas não acreditam nisso.

Precisam se perguntar o que está acontecendo. Se o CEO não estiver preocupado com isso de forma ativa, não vai acontecer. Quando falamos de ações concretas não estamos falando de apoiar o antirracismo nas redes sociais, por exemplo, mas quando chega alguém negro na sua empresa não tem vaga para esta pessoa.

Será que as empresas se preocupam em buscar fornecedores ou outras empresas parceiras que também sejam inclusivas, preocupadas com as minorias? Quando falo em ações concretas, é isso que quero dizer. Só se preocupar com hashtag não adianta.

 

Como a diversidade e a inovação deixam de ser apenas um processo e se tornam parte da cultura organizacional de uma empresa?

Isso começa de cima, começa com as lideranças e com os acionistas. Precisa ter uma conscientização, saber que isso começa com uma procura, pesquisa, com educação. Temos que buscar soluções concretas, ver como toda a cadeia está se comportando, como as empresas de suprimentos, que abastecem, estão se comportando. As pessoas pensam que isso não tem nada a ver com seu dia a dia, mas tem, nós vivemos em uma sociedade. 

 

Você é de Gana, já morou em outros países e agora vive no Brasil. Fazendo um comparativo do Brasil com estes outros lugares que você já esteve, em que patamar as empresas brasileiras estão em relação à diversidade?  

O Brasil está muito atrasado se comparado aos Estados Unidos. Estou aqui há 9 anos e a conversa só começou há 4 meses. Nos EUA se fala sobre isso desde 1950. Uma coisa que não ajuda aqui é que o povo é muito tradicional, famílias tradicionais. Quem tem dinheiro só se associa a quem também tem dinheiro e acham que isso não é um problema. Algumas pessoas acham que só de levar a babá para viajar ou a convidar para comer na mesa já estão sendo bons. Espero que mude rápido.

 

Você acredita que a inovação e o crescimento da sua empresa vêm dessa diversidade de pessoas que estão inseridas em todos os processos? 

O problema com o crescimento econômico no país é de longa data. Um país não se mede como empresa ou pessoa. É algo de longo prazo. Mas para crescer não se pode suportar a desigualdade. Poderia por pouco tempo, mas é impossível um país suportar isso a longo prazo. 

 

Alguma iniciativa inovadora relacionada à diversidade chamou a sua atenção recentemente?

No Brasil a Natura tem feito algumas ações interessantes. 

 

O que os líderes que farão parte do Economics of Change, com o tema Diversidade & Inovação, podem esperar desse evento? 

Não se consegue transformação digital sem transformação cultural. O que estamos tentando fazer é que as empresas acreditem nisso. Queremos trazer temas que impactem a médio ou longo prazo a performance destas empresas e a diversidade e a inovação são fatores desta transformação.

Estamos trazendo pessoas que são referências sobre o tema. As empresas mais inovadoras são as mais diversas. Diversidade não significa só pessoas diferentes, significa pessoas com backgrounds diferentes.

 

Por que líderes devem participar do Economics of Change?

Em primeiro lugar o keynote. A Sylvia Hewlett​ é uma mulher forte, sábia. O conteúdo que ela vai trazer é especial, baseado em pesquisas e dados reais. Os painéis serão diversos. O Paulo Rogério Nunes​, da Vale do Dendê, vive esse tema. É uma educação. Por duas horas o convidado será educado em um tema que tem tudo a ver sobre o seu futuro e de forma didática.

Compartilhar informações é uma maneira para construir as mudanças que o mundo precisa. A segunda edição do Economics of Change irá reunir uma seleção de líderes e especialistas em um debate sobre Diversidade & Inovação. Farão parte do encontro Sylvia Hewlett, Paulo Rogério Nunes, Nana Baffour, Maria Colacurcio, Erika Irish Brown e Roberto Balls Sallouti. Será no dia 27 de agosto, às 10h. Reserve o seu lugar.

Website: http://economicsofchange.com

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