São Paulo – SP 3/11/2021 –

Com base em pesquisa, especialista fala da importância de valorizar a saúde mental das crianças para que sejam adultos saudáveis.

As primeiras experiências do ser humano durante a infância moldam a arquitetura do cérebro em desenvolvimento e qualquer interferência durante esse processo de desenvolvimento pode prejudicar as capacidades de aprendizado e de relacionamento de uma criança, e isso reflete diretamente em toda a sua vida. Pesquisa do UNICEF realizada pelo Ibope Inteligência, em dezembro de 2020, alerta para eventos que ameaçam a segurança de crianças e de seus pais. Sinais como mudança brusca de apetite, dificuldades em dormir, dificuldade em concentração, dores de cabeça, aumento de agressividade, problemas de interação com outras crianças, comportamentos regressivos e dor de estômago são apenas alguns sintomas psicológicos que os pequenos expressam em estado pós-traumático, por não saberem verbalizar o que de fato sentem.

De acordo com a pesquisa, negligenciar os cuidados psicológicos necessários na infância pode prejudicar a capacidade de aprendizado e de relacionamento de uma criança, levando a traumas que impactarão nas suas habilidades físicas, emocionais, sociais e cognitivas ao longo da vida. Um adulto pleno depende de uma boa saúde mental na infância, o que resulta em melhores dados sociais e estatísticos, como redução na evasão escolar, refletindo, por sua vez, na diminuição da criminalidade e da desigualdade social.

Com base nesses dados, a Dra. Samira Alves da Silveira Caldeira, psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental, pós-graduada em psicologia jurídica e social com ênfase em constelação familiar, afirma que as experiências traumáticas na infância, especificamente entre 0 e 12 anos, estimulam a produção de cortisol, conhecido como hormônio do estresse, prejudicando as conexões entre os neurônios, propiciando o surgimento de transtornos mentais. E que crianças e adolescentes com transtorno mental têm seis vezes mais chances de ter problemas de saúde, jurídicos, financeiros e sociais quando adultos, e essa probabilidade cai pela metade para aqueles com sintomas mais leves, os quais ficam três vezes mais propensos a ter esses problemas quando adultos.

Os pais ou responsáveis podem muitas vezes não identificarem esses sintomas, fazendo com que muitas crianças não recebam a ajuda de que precisam. E ainda, esses transtornos mentais em crianças são geralmente definidos como atrasos no desenvolvimento de pensamentos, comportamentos, habilidades sociais ou controle de emoções da idade, afetando sua capacidade de funcionar bem em casa, na escola ou em outras situações sociais, incluindo lazer. Segundo a Dra. Samira, considerando a pesquisa, dentre os transtornos mentais mais comuns em crianças ela relata transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro do autismo (ASD), transtornos alimentares, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), esquizofrenia, entre outros.

“Devido à natureza imprevisível das crianças, é difícil até mesmo para os profissionais diagnosticar, quanto mais para um pai ou responsável perceber. Ainda assim, os problemas de saúde mental em crianças pequenas devem ser tratados, pois apresentam riscos maiores à medida que a criança amadurece”, diz a especialista.

De acordo coma Dra. Samira, a saúde mental é a condição geral de como uma pessoa pensa, regula seus sentimentos e se comporta. Um transtorno de saúde mental consiste em mudanças no padrão de pensamento, sentimento ou comportamento que causam angústia ou perturbam a capacidade de funcionamento de uma pessoa. Ela ainda aponta a genética como um fator determinante para uma criança desenvolver algum transtorno, porém a genética sozinha não é suficiente se o indivíduo não sofrer interferência de situações externas. Segundo ela, os genes contêm informações que só podem agir no organismo se forem acionadas pelas experiências e circunstâncias pelas quais as crianças passam.

“A cada segundo, entre 700 e 1000 conexões são formadas no cérebro e essas conexões são reforçadas pela experiência repetida. As conexões mais fracas logo são rompidas assim que a poda começa e o cérebro descarta conexões irrelevantes para aumentar a eficiência da transmissão da informação. Portanto, a genética e a experiência desempenham papéis iguais na determinação da saúde mental das crianças”, explica ela.

Os dados da pesquisa demonstram que os relacionamentos da criança com os pais, responsáveis, professores e colegas são fundamentais para a formação de uma base sólida para o comportamento posterior, sejam bons ou ruins. Se esses relacionamentos forem positivos, eles terão um efeito protetor quando ela entrar em uma situação estressante. Por outro lado, se essas experiências forem marcadas por situações de adversidades ou de estresse, como violência doméstica, relacionamentos abusivos, bullying na escola, ou até mesmo maus exemplos por parte dos pais, a resposta biológica da criança ao estresse se tornará hiperativa e ela ficará especialmente suscetível a problemas de saúde mental. Com base nesses dados, a Dra. Samira afirma que os pais e um ambiente de harmonia familiar têm papel fundamental no plano de tratamento de uma criança com traumas.

“Quando se trata de saúde mental, a família tem sempre um papel fundamental! É importante que os pais ou responsáveis pela criança aprendam sobre a doença, considerando todos os membros da família como parceiros no plano de tratamento. Peça conselhos ao profissional de saúde mental do seu filho sobre como responder a ele e lidar com comportamentos difíceis. Inscreva-se em programas de treinamento para pais, especialmente aqueles voltados para pais de crianças com transtornos mentais. Estar presente no dia a dia da vida do seu filho também é essencial, como trabalhar com a escola de seu filho para garantir o apoio necessário, além de procurar maneiras de relaxar e se divertir com ele”.

Portanto, visando a boa saúde mental de toda uma sociedade adulta, é preciso estar atento à saúde mental das crianças, protegendo-as de situações de estresse. E os pais, em um ambiente de harmonia familiar, desempenham papel fundamental nesse processo.

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