29/11/2021 –

Um estudo recente publicado na revista Científica Frontiers of Psychiatry mostrou algumas mudanças no cérebro e consequentes benefícios que a prática regular de atividades físicas pode causar em pacientes que estão sofrendo de depressão.

A depressão é o transtorno da mente mais comum em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS. Além disso, à nível mundial, a depressão é a doença que mais está associada com casos de incapacidade laboral, ou seja, o transtorno é responsável por aumentar os índices de absenteísmo.O tratamento da depressão envolve assistência multiprofissional e exige, sobretudo nos casos moderados e severos, o uso de fármacos chamados de antidepressivos.

No entanto, descobertas recentes têm apontado para outras ferramentas importantes para o auxílio dos mais de 350 milhões de pacientes (segundo dados da OMS) que sofrem com depressão ao redor do globo.

Nesse sentido, um estudo recente publicado na revista Científica Frontiers of Psychiatry pela médica e pesquisadora Wanja Brüchle e colaboradores da University Clinic for Psychiatry and Psychotherapy at Ruhr-Universität Bochum (RUB) mostrou algumas mudanças no cérebro e consequentes benefícios que a prática regular de atividades físicas pode causar em pacientes que estão sofrendo de depressão. Para auxiliar na interpretação dos dados de tal estudo, a psicóloga Cleuza Canan, fundadora da Clínica Psiquiátrica e Clínica Dia Cleuza Canan, irá comentar sobre os principais pontos desta publicação.

O impacto dos exercícios nos sintomas de depressão

De acordo com o estudo publicado pelo Frontiers of Psychiatry, a prática de exercícios físicos exerce influência na plasticidade neural, ou seja, uma simples corrida, realizada de maneira regular, poderia aumentar certas regiões do cérebro que estão afetadas pela depressão.

Cleuza Canan afirma que a depressão é um transtorno complexo, o qual envolve uma série de causas. Uma das etiologias mais frequentes tem relação com a queda na produção de certos neurotransmissores como, por exemplo, a serotonina. Além de promover o desenvolvimento de certas regiões cerebrais que estão relacionadas com a serotonina, a própria prática das atividades físicas pode aumentar os níveis de tal neurotransmissor.

No entanto, Cleuza faz uma alerta: muitas vezes é necessário, para tratar de forma adequada a depressão, fazer uso de remédios que promovem a neuromodulação cerebral. Em casos moderados e graves de transtorno depressivo maior não é possível ter resultados satisfatórios no tratamento somente lançando mão do exercício físico.

A metodologia do estudo

Como todo estudo científico, o da revista científica Frontiers of Psychiatry envolveu a comparação entre dois grupos diferentes. Um deles, de 21 pessoas com depressão, realizou 60 minutos de atividade física 3 vezes por semana. Por outro lado, um outro grupo realizou a prática semanal de 90 minutos de exercícios cognitivos como, por exemplo, a prática do xadrez e das damas.

A comparação, pelos pesquisadores, entre os dois grupos, revelou que as 21 pessoas que realizaram os exercícios físicos desenvolveram certas regiões do cérebro que são afetadas pela depressão, atingindo patamares semelhantes à indivíduos que não apresentam o transtorno depressivo. Por outro lado, o grupo das pessoas que realizaram exercícios para estimulação cognitiva não apresentaram melhoras tão importantes no sentido da neuroplasticidade.

De acordo com Cleuza Canan, a depressão é um transtorno que tem uma gama ampla de sintomas, mas as esferas mais atingidas envolvem a gestão das emoções e o comportamento. Uma vez que a atividade física regular promove o equilíbrio das funções biológicas do corpo, há maior probabilidade de suscitar melhorias mais evidentes que exercícios que estimulam a memória.

Cleuza considera também que o estudo da Frontiers of Psychiatry foi muito feliz, pois mostrou que agir somente nos sintomas, ou seja, na perda de memória ou do foco, não é o mais importante, uma vez que os resultados mais expressivos se dão quando a raiz dos problemas é estruturada. No caso da depressão há um forte componente emocional e comportamental que é suscitado muitas vezes por alterações neuroquímicas que podem ser melhoradas pelo exercício físico.

Os sintomas mais comuns da depressão que o exercício combate

No estudo conduzido pelos pesquisadores alemães e publicado na Frontiers of Psychiatry, os exercícios tiveram uma peculiaridade: foram exercícios divertidos, os quais estimulavam as interações entre os indivíduos do grupo, a fim de favorecer maior inclusão.

Na discussão do trabalho científico em questão propõem a reflexão de que os exercícios físicos vão além de uma prática puramente biológica, uma vez que à medida que a prática de atividades físicas envolve o outro, o exercício torna-se um evento com caráter de socialização. Assim, a realização desses tipos de atividades ajudaria a combater o sentimento de solidão e a sensação de menos valia.

Canan esclarece que, ao participar de uma atividade física em grupo, o indivíduo que sofre de depressão percebe que seus atos repercutem no todo, isto é, o senso de sentido, que pode estar obscurecido pela depressão, é melhorado à medida que o indivíduo percebe sua força por meio do exercício, por exemplo.

Além disso, o estudo do Frontiers of Psychiatry mostra que a prática regular de atividades físicas estimula a produção do neurotransmissor dopamina, ligado à sensação de recompensa. Tal reação, por sua vez, auxiliaria a melhorar a anedonia, o principal sintoma da depressão, que se refere a perda do prazer em atividades que antes eram satisfatórias.

Exercícios não bastam para o tratamento dos sintomas de depressão

Canan é categórica: “independente da gravidade da depressão, é imprescindível procurar atendimento especializado para decidir qual o melhor tratamento. Não se pode realizar atividades físicas por conta, realizando um autotratamento que pode ser ineficaz, fazendo com que o transtorno piore e suscite prejuízos cada vez mais sérios.”

Por fim, Canan destaca a importância da realização de terapia, especialmente com as técnicas da terapia cognitiva-comportamental, no tratamento da depressão. Mais informações sobre essa abordagem estão disponíveis no site: https://clinicacleuzacanan.com.br/blog/terapia-cognitiva-comportamental/

Website: https://clinicacleuzacanan.com.br/

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