Em meio à alta dos índices de juros e da inflação, o número de inadimplentes segue elevado. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 28,7% das famílias ouvidas relataram ter contas ou dívidas em atraso em maio. Levantamento recente da Serasa apontou que mais de 65 milhões de brasileiros estavam inadimplentes em março.

Nesse contexto, o mercado de crédito atravessa um momento desafiador, marcado pelo crescimento da demanda por recursos financeiros ao mesmo tempo em que o risco e o custo de capital também aumentam. No entanto, na visão da Associação Brasileira de Crédito Digital, a tendência é que a maioria das fintechs de crédito tenha uma performance melhor do que instituições financeiras tradicionais nesse cenário econômico de alta volatilidade.

“A inadimplência é sempre uma realidade para quem trabalha com crédito. E, neste momento, essa realidade está crescendo de forma sistêmica. Mas vemos as fintechs mais preparadas e equipadas para lidar com clientes que enfrentam desafios em seu ciclo de pagamento, já que têm uma série de mecanismos para acomodar uma inadimplência temporária ou a necessidade de extensão de um prazo, por exemplo”, afirma Sandro Reiss, presidente da ABCD.

“Além disso, as fintechs de crédito, com variação de uma empresa para outra, no geral operam com técnicas de decisão para concessão de crédito um pouco diferentes das utilizadas pelas instituições tradicionais. Tipicamente, há uso intenso de dados para tentar identificar perfis de clientes que estão acima do risco que os bancos estão dispostos a aceitar, mas que uma fintech pode entender que tem informações adicionais suficientes para que ela conceda crédito a esse cliente”, pontua o executivo, que detalha as três principais razões que explicam porque as fintechs de crédito tendem a se sair melhor em meio ao aumento da inadimplência.

Acostumadas à inadimplência: nos últimos 5 anos, período em que as fintechs de crédito se estabeleceram, o ciclo econômico não foi muito positivo, seja do ponto de vista da renda ou da capacidade de pagamento das pessoas físicas, seja em termos de faturamento de vendas, no caso das pessoas jurídicas. Desta forma, a maioria das fintechs teve de criar sua carteira de crédito em ambiente de inadimplência alta e com uma certa necessidade de flexibilização de condições para acomodar segmentos de mercado mal atendidos por instituições financeiras tradicionais.

Técnicas diferentes para análise de crédito: os clientes estão no centro da experiência desenhada para a concessão de crédito das fintechs. Assim, com o uso de tecnologia, as fintechs de crédito são capazes de conhecer o cliente e oferecer certas flexibilidades – como extensão de prazo de pagamento ou redução de carência, por exemplo – que as grandes instituições financeiras só conseguem proporcionar para grandes empresas ou clientes com quem mantém um longo relacionamento.

Atendimento a perfis mal atendidos no mercado: a maior parte das fintechs trabalha com parcelas de clientes que não contam com um bom atendimento no mercado, oferecendo uma linha de produtos, serviços e apetite de risco bem coordenado com a realidade de seus clientes, por isso têm a possibilidade de continuar crescendo com qualidade mesmo no cenário de alta volatilidade.