São Paulo, SP 20/1/2021 – As pessoas que estão no mundo do desenvolvimento precisam ter três características: a curiosidade, vontade de fazer acontecer e não ter vergonha de perguntar
É possível construir uma carreira sem experiência? Profissionais de tecnologia dão dicas de como se tornar uma pessoa qualificada mesmo sem a prática no mercado de trabalho.
O número de pessoas que têm entre 18 e 24 anos no mercado de trabalho subiu no final de 2019, segundo pesquisa realizada pelo IBGE. Os dados divulgados apresentam uma tendência de alta no mercado entre as pessoas jovens.
Entretanto, jovens ainda representam a maior porcentagem de pessoas desempregadas dentre todas as faixas etárias.
Um levantamento realizado pelo Acreditamos em Jovens em parceria com a empresa argentina Trendsity mostra que 77% das pessoas jovens entrevistadas acreditam que a falta de experiência é um dos fatores que as impedem de conseguir um emprego formal. Por esse motivo, o cenário no mercado de trabalho não é o mais animador para essa faixa etária.
Elias Eugênio, que é engenheiro de computação na empresa WatchGuard, revela a forma que encontrou para superar essa barreira enfrentada pelas pessoas jovens e adquirir conhecimento para atuar na área desejada: “no meu primeiro ano no ensino técnico de informática, percebi que não estava preparado, mas que precisava começar. Na época, tinha uma banda aqui na cidade e eu me ofereci, juntamente com um amigo, a fazer o site deles. Depois fiz coisas mais pessoais e fui procurando projetos que me agregavam conhecimento”.
A Catho, uma das maiores redes de busca de emprego, aponta que a construção de um currículo é essencial e serve como forma de apresentação da pessoa profissional. No entanto, o portfólio pode ser o diferencial que destaca a pessoa profissional das demais concorrentes. Essa foi a forma que Edy Segura, engenheiro de software, encontrou para conseguir um emprego, ainda que não tivesse experiência na área desejada.
Hoje, o engenheiro trabalha na Inatel, instituto dedicado à formação de pessoas profissionais em telecomunicação e tecnologia. Edy conta ter utilizado o que estava ao seu alcance para conseguir a vaga almejada: “eu trabalhava com manutenção de computadores e fazia curso técnico. Mas eu queria mudar de ramo e trabalhar com desenvolvimento web , apesar de não ter experiência nessa área. Na época, gravei um CD, coloquei todos os projetos que realizei no curso e entreguei com o meu currículo. Depois de três semanas, recebi a ligação para fazer uma entrevista, mesmo tendo somente a experiência que o curso me proporcionou”.
Além de uma boa construção de currículo e portfólio, as pessoas podem utilizar competências comportamentais a seu favor para construir uma carreira mesmo sem experiência. Também conhecidas como soft skills, essas habilidades auxiliam a pessoa profissional a se destacar em meio a concorrência, ainda que se trate de uma iniciante. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) indicou que uma boa pessoa profissional possui habilidades técnicas e comportamentais, ou seja, deve se desenvolver por completo.
A Team Leader da WatchGuard, Carina dos Santos, acredita que dentre essas habilidades comportamentais, uma delas é a essencial quando se trata de ingressar no mercado sem experiência: “a curiosidade é muito importante, porque ela desperta a busca pelo conhecimento. Muitas pessoas que estão começando trazem novidades e isso é muito bom para o time. Somado a isso, o suporte das pessoas que já tem uma experiência permite que todas as pessoas cresçam juntas”.
Assim como Carina, Julio César ressalta a importância das soft skills, principalmente no campo de desenvolvimento web: “eu considero que as pessoas que estão no mundo do desenvolvimento precisam ter três características: a curiosidade, vontade de fazer acontecer e não ter vergonha de perguntar. Apesar de ser uma área complexa, é muito unida e nós trocamos muito conhecimento”.
Os eventos online e meetups também são uma forma de se alcançar a carreira desejada. Por conta da pandemia, essas reuniões tiveram que passar por transformações para que pudessem acontecer, o que para muitas pessoas isso foi vantajoso, uma vez que elas puderam participar dos encontros independentemente de onde estivessem.
Para Elias é o momento de aproveitar esses eventos e transformá-los em algo positivo: “para quem está começando, o ponto-chave é aproveitar o que está ao seu redor. Muita coisa está mais acessível e um exemplo disso são esses eventos online, como os meetups”. O engenheiro de software da Inatel concorda e adiciona: “a participação nesses eventos ajuda muito a olhar em volta e trocar experiência. Nos auxilia a ter uma visão geral e criar networking”.
Um levantamento realizado em 2016 pela The Survey Group revelou que cerca de 85% das vagas são preenchidas por meio do networking. Eugênio destaca não apenas a importância de ter contatos nesse início de carreira sem experiência, como também ter um portfólio organizado: “muitas oportunidades virão do networking , mas organizar seu GitHub e seu portfólio também lhe dá experiência. Quando analiso um currículo, a primeira coisa que observo é a organização do GitHub.”
Edy vê o GitHub como uma rede social das pessoas da área de tecnologia, que pode ser uma boa ferramenta para aquelas que querem se inserir no mercado: “o GitHub é a rede social dos desenvolvedores. Ao invés de compartilhar fotos, você compartilha códigos”.
A Team Leader da WatchGuard aponta a relevância em ter contato com esses códigos: “observar o código de outras pessoas e se perguntar o que a levou a fazê-lo daquela forma é uma maneira de aprender”. Ela ainda adiciona outras formas de se adquirir conhecimento: “no open source e em muitos cursos que te permitem começar do zero”.
A dica de Júlio é aproveitar a fase de aprendizado e ter consciência de que experiência é algo adquirido ao longo do tempo: “todo mundo vai começar um dia. Então, não tenha medo! Todas as pessoas passam pelo estágio de aprendizado. A ausência de experiência não é um demérito, não deixe de ir atrás”.
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