7/7/2021 –
Cresce o número de casos de ansiedade, depressão e insônia em todas as idades e as emergências contra intoxicação por álcool e remédios
Os transtornos mentais podem atingir até 40% da população em algum momento da vida, sendo os mais comuns os transtornos do humor (depressão e transtorno bipolar) e ansiosos, seguidos pelo uso abusivo de substâncias lícitas (álcool, remédios e tabaco) e ilícitas (maconha, cocaína, MMDA, entre outras). O uso de antidepressivos e de remédios para ansiedade já vinha aumentando consideravelmente desde a década de 80, mesmo antes da pandemia do coronavírus.
Há indícios claros de que os transtornos mentais estão aumentando em razão do medo da doença e das incertezas em relação a emprego e renda. Especificamente, o uso abusivo de substâncias lícitas e ilícitas atinge cerca de 15% da população mundial, sendo mais comum na população mais jovem. Já a depressão, a ansiedade e os transtornos do sono ocorrem em todas as idades. Trata-se, portanto, de um problema de saúde impactante e desafiador agravado pela pandemia. “O impacto da pandemia que chegou ao Brasil em 2020 ocorre por muitos fatores e todos eles elevam o nível de estresse”, afirma o médico psiquiatra Marcelo Piquet, diretor técnico da Clínica Espaço Village.
Segundo Piquet, a diminuição do contato social, com amigos, pais, filhos e netos, a perda de parentes próximos, o medo de perder pessoas queridas, o medo de se contaminar ou contaminar alguém, a perda do emprego, queda na renda familiar, a impossibilidade de frequentar hospitais rotineiramente, a diminuição da exposição ao sol, impossibilidade de viajar, diminuição da capacidade de fazer exercícios físicos e atividades de lazer, impossibilidade de frequentar atividades religiosas, estão entre estes fatores, que tornaram a população mais vulnerável.
Álcool: aumento da violência doméstica
É possível afirmar que todos foram afetados nesta pandemia. Alguns indivíduos aumentaram a atividade esportiva, começaram cursos, criaram hábitos e novos desafios. Já os indivíduos mais sensíveis que recorreram ao uso de substâncias para lidar com o estresse estão extremamente vulneráveis a se tornarem dependentes. Em 2020 pôde ser observado um aumento da procura por profissionais de saúde mental e admissão aumentada nas emergências brasileiras de intoxicação por álcool e remédios, que podem levar à dependência química. Os conflitos familiares aumentaram, assim como a violência doméstica, já que a convivência forçada durante os períodos mais intensos de lockdown obrigou muitos indivíduos a consumir álcool em casa. “Quando isso ocorre, é indispensável a procura de ajuda de especialistas. A procura de tratamento não é motivo de vergonha ou falha moral, a dependência química é uma doença e deve ser tratada por profissionais”, Explica o Dr. Piquet.
Dependência Química: quando deve procurar ajuda?
As dependências químicas são transtornos crônicos que causam perda de controle e se caracterizam pelo uso abusivo de substâncias. O abuso pode se dar com substâncias lícitas ou ilícitas, (álcool, remédios, calmantes, cocaína e outras) e podem causar ou piorar transtornos mentais, como depressão, ansiedade e doença bipolar, entre outros. “Entre as condições necessárias para o tratamento está o afastamento provisório do modelo de convívio social anterior, que é um dos aspectos que mais gera resistência”, explica a Ana Café, especialista em dependência química e diretora da Clínica Village. “Já para os dependentes que estão em recuperação está sendo menos complicado lidar com o isolamento social provocado pela pandemia”, completa.
A característica principal da dependência é a mudança no padrão do comportamento, como aumento de gastos, queda no rendimento escolar, “sumiços”, “desculpas” como explicações, comportamento manipulador, descuido com a aparência, com a vida financeira, entre outros. “Tanto a família quanto o dependente têm dificuldades em reconhecer a dependência. Um profissional capacitado vai inicialmente promover psicoeducação para o problema. Mas a admissão do problema leva tempo”, explica a psicóloga.
Todos que estão ao redor passam a sofrer com a doença
Diversos estudos demonstraram que os familiares e amigos que convivem com um dependente químico têm mais episódios de depressão e ansiedade. Também existe a acomodação familiar, que ocorre quando a família “valida” a disfuncionalidade do dependente, por exemplo, fornecendo recursos financeiros, mesmo sabendo que estão sendo gastos com o consumo de substâncias, ou fornece um automóvel, mesmo sabendo que o indivíduo não controla o uso de álcool.
Boa parte dos casos requer tratamento especializado. O tratamento vai ser ambulatorial ou hospitalar, dependendo da gravidade. “A maioria acha que pode controlar o uso de substâncias, uma crença que não tem respaldo científico. Além disso, o dependente desenvolve maus hábitos de alimentação, de higiene e padrões caóticos de comportamento que são corrigidos durante o tratamento”, diz Ana Café.
O papel da família e da ajuda especializada
Sem a participação da família a taxa de sucesso diminui bastante. Os bons centros de tratamento, têm unidades próprias para o atendimento ao familiar. O papel da família é fundamental para a recuperação da pessoa. Entender o processo e dar o apoio e limites necessários podem fazer a diferença para o sucesso do tratamento. “Essa é uma etapa que tem a duração média de 30 dias e o médico é fundamental nesta fase, é ele quem vai administrar os medicamentos com o objetivo de permitir que o paciente supere esta fase”, explica Marcelo Piquet.
Formas de tratamento da dependência química
As terapias especializadas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Entrevista Motivacional têm reconhecimento científico, além dos grupos de mútua ajuda como Alcoólicos Anônimos. Outras formas de terapia são ineficazes. Sempre que houver situações de perda de controle e exposição a risco de vida o paciente deve procurar os profissionais especializados e a internação se faz necessária. A legislação brasileira permite a internação involuntária para qualquer idade. Sempre há necessidade de avaliação médica prévia, além de concordância dos familiares.
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